(Edgar Morin)
Vivemos naquilo a que se poderia chamar o 'lado
ocidental da sociedade', vivemos segundo uma ética criada pela ocidentalidade,
onde já nascemos inscritos, e onde aprendemos a sobreviver perante determinadas
regras sociais que no nosso ponto de vista 'ocidental' fazem todo o sentido.
Mas perante este cenário somos obrigados a pensar: onde está o resto do mundo,
onde ficam todos os outros lados não-ocidentais que, como nós, vivem no
dia-a-dia da realidade?
É a partir desta noção de que somos ocidentais
mas não somos a totalidade, que me propus pensar os direitos humanos. Como
sabemos, eles foram criados no ocidente e assumem exactamente esse mecanismo de
pensamento. E aqui chega a hora de reflectir que parte do mundo o ocidente
ocupa. A minha resposta, a resposta do eu que eu sou e que nasceu e viveu desde
sempre no mundo ocidental seria: o ocidente ocupa o mundo inteiro. Mas
exactamente por isso, exactamente por estar inscrita na Europa e fazer parte
deste lado do mundo, sou obrigada a reflectir que para lá de mim existem
continentes onde a ocidentalidade não faz sentido, ou se faz, ela viola
características intrínsecas de povos que não se querem mudar, que não se querem
ocidentalizar e que não querem ver pelas mesmas lentes que o ocidente vê. Posto
isto, é facilmente verificável que vivemos numa autêntica dialéctica a nível
mundial. Não somos inteiros ainda. Somos partes que se interligam e que na
melhor das hipóteses se dão bem. É nesta urgência de diálogo entre o mundo
inteiro que me parece indispensável a Declaração Universal dos Direitos
Humanos. Afinal, como o próprio nome indica, nascendo na Indonésia ou nascendo
em Inglaterra, somos todos humanos. E esta é a primeira premissa universal da
moralidade. Os direitos humanos são, então, valores morais em si mesmos e,
necessitam com urgência, que se entendam por esse prisma em qualquer parte do
mundo. A nossa faceta Humana é aquilo que nos une uns aos outros e, embora
possa assumir exactamente o seu oposto, é a nossa missão não deixar que isso
aconteça. É exactamente neste ponto que Kant mostra toda a sua magnificência ao
criar o 'imperativo categórico' - "imperativo porque nos surge como uma
ordem e categórico porque se nos aplica incondicionalmente". Com este
imperativo Kant aniquila qualquer diferença entre o ocidente e o oriente e cria
uma universalidade implícita na palavra Humano. A premissa, "age apenas
segundo uma máxima tal que possas ao mesmo tempo querer que ela se torne lei
universal", é exactamente o ponto onde convergem as várias nacionalidades
e onde se atribui a cada uma o mesmo poder e a mesma liberdade. Esta liberdade,
porém, visa um aspecto impossível de alienar, o nosso pensamento universal, a
nossa predisposição para o outro e para a incapacidade de viver sem ele.
Nascemos seres sociais e continuamos a sê-lo durante toda a nossa existência,
enquanto fazendo parte de uma sociedade e enquanto humanos que a habitam.
Percebendo este ponto universal, percebemos que é urgente uma moralidade global
onde sejamos tidos como iguais perante a mesma liberdade. A liberdade inscrita
no humano que somos e na universalidade que é o mundo. Resta-nos então aplicar
no dia-a-dia o Imperativo Categórico e assumir a Declaração Universal dos
Direitos Humanos como um livro de cabeceira, tanto na ocidentalidade como em
todo o mundo, pois, só assim, olharemos uns para os sobre a mesma base e
perceberemos nesse olhar o quão iguais, e o quão diferentes, os nossos olhos
são. A diferença não aniquila a moralidade, pelo contrário, a diferença, no meu
ponto de vista, é a impulsionadora da possibilidade um olhar comum.
Teresa
Rolla
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