quinta-feira, 5 de abril de 2012

Um mundo no outro

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'Amo-te tanto.' - disse ela.
Palavras. Conjugadas. Quantas vezes numa vida se escrevem estas palavras? Quantas vezes, numa vida, se sente verdadeiramente vontade de juntar estas palavras ou de as escrever, uma a seguir à outra. Sempre achei que eram como um imperativo, um peso muito acima do suportável, um palco onde eu não imaginava querer estar. Eram palavras supérfulas num dicionário atolado de coisas importantes. Palavras, simples palavras incojugáveis por pertencerem ao núcleo das palavras-medo, das palavras-não-pensadas-fora-do-cinema. Como eu estava enganada do alto do meu crepúsculo de saberes indizíveis. Afinal elas dizem-se. Algumas vezes numa vida. Eles pronunciam-se por bocas, muitas bocas. Eles ganham vida e são escritas em papéis. Também são escritas em ecrãs. São lidas. Caracteres. Interpretados e reinterpretados. Olhados, revisitados. Ouvidos por mil vozes, em mil línguas. Destorcidos e claros como letras desenhadas num papel. São pronunciadas por vozes que pertencem a corpos. Somos corpos que vibram numa junção de caracteres. Sentidos. Há palavras e palavras, e há as palavras-medo assim como as palavras-sentidos. Palavras escondidas por baixo das palavras banais, escondidas da luz do dia, dos olhares do mundo. Palavras-silêncio, escondidas do barulho ensurdecedor da vida. Palavras símbolo, descodificadas. Palavras-vida que fazem arriscar tudo. Universos entrelaçados por vogais. Mundos edificados em caracteres. Não passam de palavras, mas são palavras-tudo. Palavras, uma a seguir à outra. Um mundo no outro.


TR

2 comentários:

  1. Olá,

    Escreves muito bem e achamos que tens algo para contar de certeza! Se quiseres participa no nosso projecto e vamos fazer um livro em grande :)

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    1. Olá,

      obrigada pelas palavras deixadas aqui...
      e que projecto é esse?

      TR

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