domingo, 22 de abril de 2012

Vírgulas e pontos finais

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É nessa sede de querer sempre mais que eu me reconheço, nesse teu traço firme quando a caneta desliza pelo papel. Como se entre as palavras não houvesse espaços, como se entre nós não estivesse um abismo criado desde o início. E é sempre nas palavras que não escreves que eu me reconheço, na tinta preta de caracteres que não estão lá. Que ficaram por dizer e que por isso, dizem tanto. Nunca podemos dizer tudo. É uma característica da linguagem, ela tem falhas como todos nós. Nunca nos deixa dizer tudo. Nunca há palavras suficientes, e é para isso que existem as entrelinhas. Os espaços em branco. Os silêncios. São tudo intervalos necessários em qualquer língua, em qualquer papel. Entre tu e eu, entre eu e o mundo, as palavras perdem-se no abismo e fica o silêncio para lembra-las e soletra-las, como se tivesses escondido um segredo em cada letra e cada frase se desmoronasse na ponta da tua língua. Porque são tudo palavras, o que trocamos, entre eu e tu. Não passamos de vírgulas e pontos finais. Somos só as ideias entre eles. O mesmo fôlego, em maiúsculas ou minúsculas, tanto faz. 

TR

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