É nessa sede de querer sempre mais que eu me reconheço,
nesse teu traço firme quando a caneta desliza pelo papel. Como se entre as
palavras não houvesse espaços, como se entre nós não estivesse um abismo criado
desde o início. E é sempre nas palavras que não escreves que eu me reconheço,
na tinta preta de caracteres que não estão lá. Que ficaram por dizer e que por
isso, dizem tanto. Nunca podemos dizer tudo. É uma característica da linguagem,
ela tem falhas como todos nós. Nunca nos deixa dizer tudo. Nunca há palavras
suficientes, e é para isso que existem as entrelinhas. Os espaços em branco. Os
silêncios. São tudo intervalos necessários em qualquer língua, em qualquer
papel. Entre tu e eu, entre eu e o mundo, as palavras perdem-se no abismo e
fica o silêncio para lembra-las e soletra-las, como se tivesses escondido um
segredo em cada letra e cada frase se desmoronasse na ponta da tua língua.
Porque são tudo palavras, o que trocamos, entre eu e tu. Não passamos de
vírgulas e pontos finais. Somos só as ideias entre eles. O mesmo fôlego, em
maiúsculas ou minúsculas, tanto faz.
TR
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