domingo, 10 de janeiro de 2010

Quando as palavras dizem adeus

Quando éramos dois e neste número nos perdíamos
sem querer a viagem começou
fomos e viemos do inferno
fomos contidos e metidos em palavras
viemos inscritos em sentidos e sentimentos
emoções desfocadas
tão nítidas como tu e eu abraçados
abraçados naquele olhar que durou horas e que no fim
o fim que é sempre aquilo que todos esperam
já reparaste?
todos esperam o fim de todas as coisas 
a altura em que é inevitável pensar no fim
sentir o fim
acabou
não vai mais acontecer
as palavras perderam-se e nós 
nós mergulhamos no meio delas como no início
mas desta vez apenas para não termos consciência do seu significado
o infinito do fim

porque mesmo que não queiramos enfrentar a realidade, quase sempre só há um sentido.

TR

Um comentário:

  1. "...olhavas-me de baixo e eu sentia-me como presa naquele quadro dependurado naquela parede nua... havias-me pintado, traço a traço, ruga a ruga com aquele lápis de cera preta com que fazias os teus gatafunhos... olhavas-me de baixo e eu sentia-me perdida no meio do teu olhar que não sabia ler, que não sabia entender... havias-me traçado a pele enrugada à volta dos olhos, nas faces, as próprias linhas do franzir habitual da minha testa... como me houveras pintado tão bem... ainda recordo aquela manhã em que sentada no banco da cozinha me havias pedido para posar para ti... ri-me como se pudesses fazer tal coisa... e, depois destes anos todos passados, em que regresso apenas em memória, olho-te de cima e vejo-te a olhar para mim daí de baixo, em pé nesse chão de tábuas rabugentas e bafiosas... olhas-me com um olhar parado, sem fulgor, apagado, mas olhas-me e recordas-me... só não consigo entender se me olhas por respeito se por amor... e a dúvida mantém-me presa dentro desta moldura..."

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